terça-feira, 27 de abril de 2010

SÓ OS SHOWS SALVAM!?



Tenho visto, ouvido e presenciado em meu dia a dia o sucesso dos shows e dos eventos musicais que se proliferam em vários segmentos musicais. É visível que os eventos de musica sertaneja, se é que ainda podemos chamá-los assim, tem sido os maiores e dominam as festas tanto do interior, quanto das grandes capitais brasileiras.

Aqueles ouvidos que não curtem o novo sertanejo que me desculpem, mas ouvindo com atenção vão descobrir que o formato pop está dominando os arranjos dessa nova safra. E aqueles que ouvirem com mais atenção vão perceber que muitos bons artistas e boas musicas tem se revelado nesse segmento, mas como tudo que peca pelo excesso, o tempo e a seleção natural se encarregarão de preservar os melhores.

Por um lado vejo uma seara de grandes eventos que movimentam grandes valores e me fazem ter orgulho de ser filho de uma pantaneira que ainda jovem tocava sanfona e cantava modinhas e guarânias típicas da beira do rio Paraguai. Por outro, me assusta ver os artistas distribuindo CDs como se fossem meros flyers de divulgação. Todos tem uma boa justificativa para essa largar e farta distribuição, mas nenhuma me parece razoável considerando que estamos dando aquilo que deveríamos valorizar. Se esta regra valesse para outros segmentos teríamos que ter farta distribuição de pães, carros, bebidas, livros e tudo mais que pudéssemos experimentar, levar para casa e quando acabasse ou perdesse a importância, iriam para o lixo. Aliás este tem sido o destino da maioria dos CDs distribuído pelos divulgadores, empresários, contratantes e aqueles que pensam que estão fazendo um grande negócio para seus artistas e para o seu segmento.

A curto prazo é realmente um grande negócio, porque vende shows, faz a musica ser conhecida, decorada e cantada por todos que se interessam em ouvi-la. Entretanto, me parece que estamos todos surdos e insensíveis ao grande mal que essa cadeia distributiva, está causando. A destruição da percepção do valor da musica por aqueles que estão de olho nas massas e no sucesso rápido é a mais grave, pois descarta nas mãos da multidão os seus artistas e suas musicas. No final do show acabam pisoteados por aqueles que nem se dão ao trabalho de ouvir, porque preferem baixar na internet ou não se interessam mesmo.

Essa estória já foi vista e há alguns anos atrás atingiu em cheio o Axé Music, ou como prefiro denominar, o Pop Bahia, que produziu grandes eventos e grandes artistas. Tudo bem que a performance era considerada por muitos como mais importante que a música, mas temos que ter orgulho de um País que produz tantas tendências e estilos. Somos ricos em idéias musicais e artísticas e temos uma cultura em total ebulição, movida por um povo essencialmente criativo. Os eventos de musica baiana continuaram, mas os artistas foram sumindo e os CDs que eram distribuídos em larga escala para promover os shows e as novas bandas, foram exterminando o movimento. Salvaram-se aqueles que investiram e fortaleceram suas carreiras através da constante renovação e evolução de seus repertórios e sonoridade, e porque souberam se preservar respeitando o público conquistado.

Acredito que podemos equilibrar a balança encontrando outros meios de propagação da musica sem torná-la descartável. Primeiro, não vejo porque distribuir 10, 15, 20 musicas já que a grande maioria vai ouvir uma ou duas faixas. Segundo, temos a internet e os grande portais, o celular e as operadoras, os players de musica digital e seus fabricantes e os próprios ingressos dos shows como possibilidades de transporte e distribuição. Hoje é possível inserir um pin number no ingresso para que o pagante tenha direito a ouvir uma ou mais musicas e vídeos do artista. É possível transmitir conteúdo através de uma rede bluetooth, apresentar ações pelo telão, distribuir amostras de outros produtos que tenham conteúdo de áudio e vídeo embarcados. E toda a ação ainda pode ser financiada pelos patrocinadores ou pelos donos do evento. Além disso podemos criar versões exclusivas de uma música para uma primeira audição, tornando a definitiva ainda mais valiosa.

Estou abordando apenas algumas idéias do que já é possível ser feito. Enquanto estou discutindo as possibilidades outras mais atuais estão surgindo, logo, não tenho a pretensão de apontar a solução. É fundamental mostrar que valorizamos a música que fazemos e que uma boa canção depende de muito talento. O artista que conquistou seu espaço e fortaleceu sua marca tem ainda mais facilidade de prospectar e atrair interessados. O problema é que a grande maioria não enxerga o seu próprio potencial. Acha legal ganhar um tênis ou um boné de algum fabricante bacaninha. Alguém já viu piloto de corrida usando macacão ou boné que não fosse cravado de patrocinadores? Mas este é assunto para outro post que farei mais adiante. Agora vou deixar no ar porque o show deve continuar...