segunda-feira, 15 de março de 2010

Bons Tempos!


Quando comentamos ou ouvimos comentários sobre os bons tempos a tendência é a de remeter ao passado, mas quero iniciar os textos do Sonoros Tempos, no presente, no que está acontecendo agora no grande universo multimídia que é a industria do entretenimento. Afinal somos essa indústria que tanto ouvimos falar? Sim, estou me incluindo nela, mas não a vejo como indústria. Para mim indústria remete a fábrica, a linha de montagem, a repetição de algo que se produz em série. Não fabricamos tampinha de garrafa nem biscoito Tostines, trabalhamos com o imponderável, com os sentimentos, as emoções, e não há repetição na criação por mais que hajam semelhanças.

O artista inventa e deseja conectar com o outro, com o público que está ávido para ouvir, dançar, relaxar, chorar, sorrir e a reagir, cada um do seu jeito, absorvendo a obra do criador. Existe mágica em ouvir a nova canção do artista que admiramos, da sonoridade que nos agrada, da letra que envia uma mensagem direta ao coração. Enfim somos os produtores, os propagadores da arte dos artistas que precisam dos empreendedores, para escoar a sua concepção. Então os bons tempos se foram? Não, os bons tempos continuam, e a música, tema principal do Sonoros Tempos vai muito bem, obrigado. Nunca se criou tanto, com tantas opções e ferramentas para que um número cada vez maior de pessoas tenham acesso, e a oportunidade de ouvir os criadores . O que mudou então? Porque só falamos em crise, prejuízo, e o fim do vinil, do tape, do CD e de outras mídias. As mídias que supostamente desapareceram e as novas andam convivendo pela preferência de cada um. Nessa nova era de usuários, aprenderemos a conviver e a conhecer cada vez mais os novos formatos, os novos aparelhos que irão transportar fisicamente ou virtualmente a produção áudio visual.

Somos multi mídia, multi tarefa, multi tudo, e estamos ingressando numa era onde todos os formatos estarão convivendo pacificamente. Não existe o fim que é diariamente anunciado nas mídias que deveriam estar enaltecendo suas companheiras. Somos todos críticos e entendedores desse processo, mas tenho uma nova proposta aqui. Quero ouvir, discutir e pensar em soluções e observar que muitas oportunidades já estão surgindo dentro do nosso mercado.

Já que estamos falando do tempo, há alguns anos, não vou dizer quantos porque não sou nenhum Matusalém, conheci uma figura notória do meio musical, o produtor Robert Cutarella, que para quem não sabe, foi diretor de aquisição de talentos da Warner Chappell Music, onde trabalhou com Eric Clapton, The BeeGees, Pink Floyd, the Police e Elton John, só para situar o cara. Nessa época ele estava abrindo sua própria companhia e pretendia vender digitalmente os fonogramas produzidos em seu novo empreendimento. Juntou alguns cérebros mais jovens com o capital do pessoal da bolsa de Nova York e saiu em campo. Na época tudo isso parecia um grande delírio, e de fato, mais tarde se confirmou que o seu sonho dependia de uma série de ferramentas que não estavam disponíveis naquele momento.

O Napster acabara de surgir (ooops, agora já dá para calcular) e praticamente todos que produziam e lançavam música entraram num estranho estado de pânico. Eu, que não fazia parte do grupo de abastados, mas sim dos jovens sonhadores achava tudo aquilo fantástico, e não conseguia entender qual era o problema. Todos falavam no fim dos direitos autorais, da venda de música e de como deveriam lidar com aquele furacão que surgiu repentinamente na web. Na verdade tudo aquilo para mim parecia ser uma grande oportunidade de multiplicar a distribuição da música, e não conseguia acreditar no apocalipse que os executivos viam.

Bob, italiano mezzo artista, mezzo mafioso, que aquela altura era meu chapa, também enxergava um mundo de oportunidades, mas como muitos outros, não sabia como tornar esse negócio rentável. Ora, vamos aqui pensar, experimentar e iniciar um primeiro debate. Se naquela época ao invés de entrar em pânico os executivos tivessem aproveitado para entrar num acordo com o Shawn Fanning, criador do Napster, hoje as coisas poderiam estar bem diferentes. Imagine que os usuários da web e seus computadores poderiam se tornar, cada um, num potencial vendedor de música, e não distribuidor ilegal, como foram tratados na época.

Era muito mais uma questão de regulamentar, organizar e reconhecer o Napster como um parceiro dos distribuidores de música remunerando com uma pequeníssima parcela (algo como 0,01%) cada usuário provedor, que estaria assim participando do bolo. É claro que a receita não era tão simples nem aparentemente tão fácil de resolver, mas faltou calma e discernimento as cabeças pensantes daquela época.


O negócio é que "se" não resolve nada e não estou aqui olhando para trás. Temos que arregaçar as mangas e buscar as soluções. Muitas formas novas de negócio estão surgindo para ocupar o espaço que um dia foi do disco. Saberemos acompanhar essa transformação? Gostaria que todos se incluíssem nesse cenário, porque todos estamos sofrendo com as mudanças e as saídas repentinas que podem parecer viáveis, mas ainda não houve artista surgido na internet que tenha se consolidado nesse mercado, sem o maciço investimento em outros meios.

Imaginem que a música é de todos os "produtos" um dos únicos que pode ser distribuído virtualmente e sua mensagem pode atingir um número gigante de pessoas, se bem propagada. Não dá para distribuir garrafa pet pela rede dá? Mas a música chega lá nos ouvidos e corações das pessoas, levando sua mensagem, seu conceito e gerando emoção. O artista quando bem desenvolvido e consolidado não representa apenas um ídolo das massas, mas uma marca forte dentro de um mercado em que as marcas levam anos para conseguir estabelecer uma conexão com seus consumidores. Por anos e anos a produção de música não foi vista numa ótica mais abrangente onde pudéssemos desenvolver todo o seu potencial. É claro que o foco era outro, mas os males vem para sacudir a poeira e dar a volta por cima!

Ainda estamos vivendo esse momento de transição e se soubermos construir o presente com a agilidade que o tempo exige, tenho a impressão que o futuro será generoso com
nosotros e que as portas da esperança se abrirão para um novo "bons tempos".

Sejam todos bem vindos à reflexão e ao
Sonoros Tempos!

12 comentários:

  1. Caro Daniel,
    Ótima reflexão!
    Parabéns pela iniciativa do blog. Promete!
    Abraço.

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  2. Meu querido Daniel, já me alistei as suas fileiras...rs, e não poderia ser diferente pois louvo a sua iniciativa criando este blog de discussão, criação de novas idéias, bate-papo informal, tudo de bom. Estarei aqui presente para somar e juntar as suas as nossas idéias em prol de maior informação na nossa área. Voce, que é um homem da produção fonográfica, vivendo o dia a dia do batente, se mostra antenado e generoso em trocar suas experiências com todos que participarão do Blog Sonoros Tempos. Boa sorte e conte comigo.
    abração, meu querido.
    Dalmo Medeiros (Autor, produtor e cantor do MPB4)

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  3. Daniel,
    Enhorabuena como dizem os espanhois! Tempos todos que pensar juntos uma maneira de transferir os beneficios da internet e das redes sociais para a musica. Acredito que as redes sociais são o caminho para o futuro da musica! A industria perdeu o rumo quando negou o Napster que já estava a frente do que são hoje as redes sociias,MSN e tudo mais.... Acompanhei de perto o episodio do Napster pois na epoca estava na BMG e em uma convenção da empresa o CEO Thomas Middlehoff, Chairman and CEO of Bertelsmann numa visão muito a frente anunciou a compra do Napster e enviou a seguinte mensagem em Outubro de 2000( Dez anos atras!! O cara tinha uma visão muito a frente do tempo, porém foi crucificado logo depois!! ): "Person-to-person file sharing has captured the imagination of millions of people worldwide with its ease of use, global selection of content, and community features. Napster has pointed the way for a new direction for music distribution, and we believe it will form the basis of important and exciting new business models for the future of the music industry. We invite other record and publishing companies, artists and other industry members to participate in the development of a secure and membership-based service."
    Um forte abraço,

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  4. Daniel,

    coisa boa demais essa blog-idéia!! Pode assinar minha carteira de sócio! Realmente o momento é de debate, reflexão e atitude. A velocidade dos tempos de internet assusta e ainda é um enigma. Acho que a rede aberta, como é, tende a inchar a ponto de saturar...e nessa leva também aparece de tudo. As companhias de desenvolvimento de talentos (gravadoras) provavelmente serão os filtros...os facilitadores ao acesso da música de qualidade. Claro que em parte, já tem sido assim, mas existe um busca desenfreada pelo sucesso intantâneo milagroso de click em click. Imagino a loucura que deve ser isso. Música X acessos. Será que o artista sem L.E.R. no pulso, ainda tem alguma chance...?? Enfim, é muito bom ouvir, falar e ser ouvido. "Prefiro falar e errar, do que deixar a chance passar". Muito tempo desde o Boto Rosa...é uma prazer ser seu amigo.

    Grande abraço!!

    Denis Porto (Denis e Digão)

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. luir comentário de: Sonoros Tempos

    Helder disse...
    Tudo iniciou na HILDA FURACÃO, o conhecimento a amizade e o som, som este muito a frente do tempo em que vivia-mos.Mas uma vez você vem com idéias dentro e a frente dos tempos que vivemos.Reflexão sim,apoio ao blog, total.Espero que com sua iniciativa possamos encontrar uma solução que seja viável a todos e que possamos todos ter um lugar ao tão querido e desejado SOL.
    Conte comigo pro que der e vier.Quando comecei a ler o BLOG e você falando dos caras, parecia que tinha sido ontem, eu lembrei de você falando isso pra gente dentro do saudoso BOTO ROSA,e o tempo passou e hoje estamos vivendo tudo aquilo que você viu lá atrás .Parabéns pelo BLOG e continue, isso é muito importante para os novos tempos que virão e para os SONOROS TEMPOS.
    Forte abraço e que DEUS te abençoe.
    jakaré,percussão.
    18 de março de 2010 16:59
    Postado em Bons Te

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  7. sim o momento é de transição e eu acredito em um mundo mais virtual, mais digital do que já é.... a indústria da música segue pra este caminho...os instrumentos musicais estão mais digitais...as mesas e interfaces são digitais...tudo vai mudar...todos irão se adaptar....mas a criatividade continua sendo humana seja ela crianda ou programada...

    abs e to seguindo..hehehehe

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  8. Parabens pelo Blog Daniel somos novatos por aqui no Blog e achei muito interessante o seu post.

    Um grande Abração e parabens pelo texto.

    Adriano Scaramussa e Megaphony
    www.myspace.com/megaphonyrock

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  9. Em poucas palavras?
    Que venha o futuro, vivenciando o presente!

    ...

    Sem medos e inseguranças apegados se "isso" ou "aquilo" se extingüirá, temos que ousar sim!Pois o nosso presente exige que assimilemos com sabedoria, inúmeras informações tecnológicas em tempo hábil PRÓ ao nosso mundo musical. Conquistando assim, a harmonia do PRESENTE e FUTURO que tanto almejamos, como já escrito por Daniel Silveira.

    .........

    Fica aqui o meu adendo complementando que, foi um grande prazer compartilhar juntamente com meus amigos tamanha sabedoria e simplicidade vindos de ti Daniel.

    SUCESSO !!!

    ROSE OLIVETTO
    www.twitter.com/roseolivetto

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  10. Obrigado a todos pelos comentários e vamos em frente! Quero discutir idéias, ouvir mais, pensar mais e propor caminhos que sejam alternativas ao feijão com arroz do dia a dia.

    Falcão, adoraria ter conhecido o Thomas Middlehoff, e, na boa, continuo com a opinião que pegamos o último vagão, mas ainda dá para chegar no primeiro.

    Não me entendam mal, adoro feijão com arroz, mas que tal acrescentarmos um tempero diferente, um sabor novo para aguçar o pensamento e sair do campo dos sonhos para a realidade? Quero ouvir vocês e discutir e evoluir o debate a partir dos textos e dos comentários, principalmente dos comentários.

    Sintam-se a vontade em revelar suas impressões, até porque aqui estamos todos em campo aberto e estamos discutindo a impropriedade sem medo de ser feliz!

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  11. Grande Daniel. Mais uma vez, parabéns pelo Blog.
    Tomara que ele possa inspirar as novas ideias e novos formatos de negócio que você e muitos de nós esperamos encontrar.

    Só para citar um exemplo de outra área, além de toda essa transformação no mercado musical e nos seus suportes (Cds, Mp3, Vinil, etc), estamos assistindo também uma transformação muito grande no segmento de livros, que também estão, cada vez mais, migrando para a rede e para um suporte digital.

    Leitores como o Kindle e outros semelhantes, conseguiram desenvolver uma tecnologia que, até onde eu sei, impedem a pirataria, pois ao comprar um livro em formato digital, você não tem como automaticamente transformá-lo num arquivo pdf. Você só lê no seu computador, kindle ou iphone e não consegue enviá-lo para ninguém. Já na música, e mesmo nos filmes, você compra um CD ou DVD e converte ele todo para mp3 ou mov.

    Essa facilidade toda que a tecnologia e os computadores pessoais disponibilizaram nos últimos anos, no caso da música, acabou pegando a indústria e as pessoas de "calças curtas" e é natural que isso tenha acontecido. Precisaríamos ser todos gênios para ter os reflexos ideais e reagir da forma mais adequada quando essas mudanças surgiram tão repentinamente. Tudo aconteceu muito rápido e surpreendeu a todos.

    De alguma forma, a indústria do livro, talvez por ter assistido anteriormente ao que aconteceu com a música, conseguiu se preparar melhor para proteger seus produtos.

    Ainda que você possa digitalizar todo um livro e disponibilizá-lo na rede, isso é bem mais trabalhoso do que gerar um mp3.

    A pergunta que deixo é: será que ainda existiria uma forma de fazer como que a música comprada pela rede só pudesse ser acessada da mesma forma que os livros, através de um leitor "dedicado" e específico e "não transferível"? Não sei se isso seria possível e nem se resolveria o problema.

    Anyway, o exemplo da indústria de livros, pode ser inspirador para algo.

    Abraços.
    Maurício Gaetani

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  12. OPA!!! MEU BROTHER DANIEL (AQUI É O VISSO DO FLEX ESTUDIOS DE BH)... BOA REFLEXÃO SOBRE A REALIDADE DA "ARTE GLOBALIZADA". UMA LUZ AO FINAL DO TÚNEL EXISTE!!!
    GRANDE ABRAÇO.. AH. APROVEITA PRA VER MEU TRABALHO AUTORAL.
    www.youtube.com/mariobrozbhz

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